sexta-feira, 15 de maio de 2009

pensamentos da teologia de Thomas Müntzer



COMPREENSÃO DE DEUS







Müntzer tinha um desejo profundo de conhecer Deus e entendê-lo. Ele, assim como Lutero, passou por profundas inquietações interiores, dúvidas que o inflamaram na busca por respostas. A diferença entre ele e Lutero estava na maneira como ambos expressavam seus sentimentos nestas questões. Lutero "quis enteder Deus, cheio de sentimentos de culpa, medo e pavor de Deus".Müntzer assumiu uma postura extremamente melancólica. Dreher explica: "Müntzer enfrentou um sentimento quase niilista da distância de Deus, desesperado por não possuir Deus e seu poder. Perguntava pela existência de Deus e martirizava-se com a questão se a doutrina de Cristo era realmente procedente de Deus".(DREHER, 1996). Em uma carta sua, Müntzer aprofunda nas palavras as suas inquietações, e diz:
"Aí o homem pensa que não tem fé nenhuma. Sim, segundo lhe parece,
não encontra fé alguma. Ele sente ou encontra um anseio muito pequeno
à procura da verdadeira fé, que é tão fraco que mal e dificilmente consegue
vislumbrar em si. Finalmente, ele o tem que arrancar de dentro de si, dizendo:
'Ai de mim, mísero homem, que me move em meu coração?
Minha conciência consome toda minha seiva e força e tudo o que sou.
Ah, que hei de fazer? Fiquei desorientado, sem qualquer consolo de
me encontrar com Deus e a criatura. Deus me castiga com minha
consciência, com descrença, desespero e com sua blasfêmia.
Exteriormente sou atacado com doença, pobreza, miséria e todo tipo de
necessidade, da parte de gente má, etc... E isso me acossa interiormente
muito mais que o exterior. Ah, como gostaria de crer direito, se tudo
dependesse disso, se ao menos eu soubesse qual o caminho correto.
Sim, eu correria até o fim do mundo"'.
Após mergulhar em algumas leituras de místicos alemães Müntzer, ficou profundamente influenciado por elas e nestas obras místicas encontrou a afirmação, que o tornou extremamente feliz. O motivo da sua alegria era pelo fato de ele estar vivendo tais experiências e já havia passado por sua "noite de angústia" agora estava já raiando o dia para ele.Nas obras dos místicos Müntzer encontrou "...de que Deus primero lança os seus amigos na noite do desespero- assim, como ele, Müntzer, o havia experimentado- antes de permitir que o sol brilhe sobre eles". Ainda em suas leituras Müntzer encontrou afirmação de que Deus se revela aos seus de forma direta e pálpavel no seu interior( alma) e isso para Müntzer estava se realizando nele o que o deixou ainda mais feliz, pois a sua busca estava sendo importante nas respostas à suas questões. Segundo Dreher Müntzer encontrou nos místicos afirmações de que "o eterno Deus, sem meios exteriores, se revela palpavelmente aos seus no mais profundo da alma... o ser humano pode sentir Deus e ter certeza absoluta dele". Para esta aproximação entre Deus e o homem se tornar possível, o homem deveria abandonar tudo que não é Deus, é a "desbrutalização" do homem. Aquilo que faltava em Müntzer nas suas lutas interiores ele encontrou nos místicos e agora para ele " Deus pode revelar-se em meios externos, contudo antes o eleito precisa passar pela "noite".
A COMPREENSÃO DE JESUS CRISTO
Não são muito claras as idéias de Müntzer sobre Cristo. Ele faz algumas alusões sobre Cristo em uma de suas pregações em Allstedt, quando utilizou o texto de Daniel 2. Esta pregação está dividida em quatro partes, na primeira dela Müntzer desenvolve a concepção de que a igreja iniciou em Cristo e em seus apóstolos um modelo ideal de cristandade pura a ser seguido, mas que com o decorrer da historia se deteriorou, pois os sucessores não souberam manter-se nesta visão. Então a igreja se desviou do seu objetivo inicial. Em daniel Müntzer vê Cristo, é a montanha, esta é a sua interpretação da visão de Daniel, e a pedra que sai da montanha sem atuação de mão humana e atinge a estátua, que representa os reinos da história humana na terra, é o Espírito Santo.
"A montanha, Jesus Cristo, nasceu numa época em que
"reinava a pior das escravidões..., na época de Otávio, quando
todo o mundo estava em movimento e era recenseado". Naquela
época, "um espírito débil (Augusto), miserável saco de lixo(Drecksack),
quis apoderar-se do mundo inteiro, mesmo que este não lhe servisse
mais que para esplendor e vaidade. Sim chegou a imaginar que
somente ele era grande". Em contraposição: "ó, que pequena era,
então, a pedra angular, Jesus Cristo, aos olhos das pessoas.
Foi empurrado para um estábulo como um dejeto humano".
(DREHER,1996).
Para Müntzer a pedra ainda não havia enchido toda a terra e na época em que se soltou da "montanha Jesus Cristo" não pôde cumprir sua missão de exterminar a última monarquia. Os servos se esmoreceram e com isso a pedra foi detida pelos príncipes, desta forma dêu-se início ao quinto período da história. Cristo, é a força que destituíria a grandeza dos impérios do mundo.
A COMPREENSÃO DO ESPÍRITO SANTO
Para Müntzer o Espírito era também um Espírito profético que revelava por meio de visões e sonhos a vontade de Deus para a história. E essa ação comprovada do Espírito profético é " a característica clara e evidente de que a transformação do mundo ocorre logo, especialmente quando ele se manifesta entre os desprezados e pequeninos na massa do povo". Müntzer toma como fundamento de sua elaboração o texto de Joel 2. O Espírito é quem trás a visão de uma revolução social e é derramado sobre "toda a carne", a fim de proporcionar capacitação aos eleitos na inévitável reforma. Para Müntzer o Espírito é quem dava a inspiração direta da Escritura.
O Espírito... se manifestou nos Patriarcas e nos Profetas, em Cristo, nos Apóstolos e pode manifestar-se em todo o ser humano. Todos os seres humanos têm em si a possibilidade de possuir o verdadeiro Espírito; essa possibilidade torna todos os homens iguais, pois perpassa todas as classes e diferenças nacionais. A ação do Espírito elimina todas as diferenças, não só diante de Deus, mas de fato, pois o Espírito cria uma comunhão dos por ele “eleitos” e, através dessa comunhão, uma nova realidade social.
Igreja é, para Müntzer, uma comunhão, sem classes e sem a existência de propriedade privada, dos “eleitos”, através da posse do Espírito. Em outras palavras: Igreja é um ideal social, onde inexistem Estado, classes, pro-priedade privada. Quem exige esse tipo de Igreja, o único verdadeiro, é o Espírito que age independentemente da Palavra; ele é inerente a todos os homens, é um princípio uniformizador de toda a vida, exigindo a uniformização de toda a vida social, segundo a vontade de Deus que pode ser conhecida por todos os seres humanos.
A COMPREENSÃO DA BÍBLIA
Müntzer não tira a autoridade da bìblia como "Palavra de Deus", mas acredita que a verdadeira palavra não se encontra na letra da escritura nem na "luz natural" da razão, mas que está no coração do homem e o homem só se apercebe quando Deus lhe envia o "impulso" ao coração. A palavra quer se manifestar no íntimo do homem, porém é necessário abdicar dos apetites carnais, do contrário não entenderá a Palavra de Deus dentro de si.
"porque os espinhos e cardos, isto é, os prazeres deste mundo...
afogam todo o efeito da Palavra de Deus que Deus diz a alma.
Por isso, ainda que Deus diga à alma sua sagrada Palavra, a
pessoa não a ouvirá, se não se houver exercitado, porque
não se volta para dentro de si mensmo, nem vê dentro de
si e nos abismos de sua alma. O homem não quer crucificar
sua vida com seus vícios e desejos, como ensina Paulo...
Por isso, a lavoura da Palavra de Deus está cheia de cardos,
de espinhos e de grandes arbustos, todos os quais têm que
ser arrancados para esta obra divina, a fim de que a pessoa
não seja negligente e preguiçosa". ( in DREHER,1996).
A COMPREENSÃO DE PECADO E SALVAÇÃO
Não é por acaso que o conceito de graça, revelado no Evangelho, faltou em nossa exposição. Ele não era central para Müntzer. Evangelho é para Müntzer luta contra o pecado no interior e no exterior. A sociedade, o “mundo” são vistos tão-somente como determinados pelo pecado.
Müntzer absolutizou o traço negativo da interpretação bíblica do mundo e não levou em conta o fato de que Deus também amou o mundo, aceitando-o em seu filho (João 3,16). Com isso ele não conseguiu ver a realidade social sob o aspecto da liberdade que Deus dá, liberdade esta que quer levar a uma libertação abrangente do ser humano. Por outro lado, também não conseguiu anunciar o juízo de Deus sobre os ímpios e eleitos, sobre seres humanos, instituições e formas de governo. Müntzer quis unir mundo e Reino de Deus e, com isso, fugiu à realidade.
A COMPREENSÃO DO HOMEM
Aqui temos a concepção de uma religião imanente que existe no coração humano, desde a criação do gênero humano, antes do surgimento de uma Escritura que contém a Palavra. O Espírito dessa religião se manifestou nos Patriarcas e nos Profetas, em Cristo, nos Apósto-los e pode manifestar-se em todo o ser humano. Todos os seres humanos têm em si a possibilidade de possuir o verdadeiro Espírito; essa possibilidade torna todos os homens iguais, pois perpassa todas as classes e diferenças nacionais.
COMPREENSÃO DE IGREJA, ESTADO E POLÍTICA E COMO SE RELACIONAVAM
Para Muntzer a igreja é, primordialmente, uma categoria sociológica para a vida humana em comunhão. É uma comunhão, sem classes e sem a existência de propriedade privada, dos “eleitos”, através da posse do Espírito. Em outras palavras: Igreja é um ideal social, onde inexistem Estado, classes, propriedade privada.Se compreendemos essa caracterização de Igreja, que encontramos em Müntzer, podemos ver por que ele não pôde aceitar a conceituação luterana que fala de Igreja visível e invisível, e que admite ao lado da visão de uma Igreja invisível a existência autônoma de Estado e sociedade. “‘Igreja’ é para ele a união dos eleitos, através da experiência direta do Espírito e da Vontade de Deus, e o estado final perfeito da humanidade, sem instituição estatal, sem propriedade, realizado aqui na terra e que conclui ou encerra a história que até aqui ocorreu”. Igreja é Reino de Deus implantado de maneira definitiva.
Müntzer viu como, em sua sociedade, o Estado ajuda a Igreja e como a Igreja ajuda o Estado, um legitimando as atrocidades do outro. Por isso ele era anticlerical. Era também contra o Estado existente. Müntzer viu-se diante da necessidade de estourar com a ideologia da cristandade. Igreja e Estado estavam impedindo a verdadeira Reforma. Para ele, quando ocorre a “conversão” interna, provocada por Deus diretamente no indivíduo, tem que ocorrer também a “conversão” externa. À revolução no indivíduo, que é a mudança provocada por Deus nele, quando fala a ele diretamente pelo Espírito, corresponde a revolução, a mudança na sociedade, na Igreja. A realidade de seu tempo, porém, era a de que a Igreja, ligada ao Estado, estava impedindo a “conversão” do indivíduo. Impedia, com isso, também a mudança, a “conversão” externa.