Perspectiva política
Os movimentos de reforma religiosa dos séculos XV e XVI não podem ser explicados somente como uma questão religiosa, é necessário entender e levar em conta os fatores políticos, sociais e econômicos da época, que eferveceram, estimularam e alavancaram esses movimentos na Igreja Católica, que já claudicava há tempo.
No nível político para entender o período da Reforma é de grande necessidade saber que, no início do século XVI , havia se formado na Europa Ocidental uma cadeia de grandes Estados nacionais. A França soube muito bem se impor aos vassalos com o poder da coroa real. Nas Ilhas Britânicas, a Inglaterra e a Escócia fecharam-se em um único cinturão unindo os reinos. Já a Espanha teve formação na união de diversos domínios Ibéricos, era a Espanha moderna. E dos antigos reinos somente Portugal assegurou sua autonomia. Governantes de potências como a França que era regida por Francisco I, e Espanha por Carlos I exerciam tão grande influência que poderiam se candidatar ao trono imperial alemão, assim também como Henrique VIII da Inglaterra, quando Maximiliano I faleceu em 1519. A Espanha desenvolveu uma situação favorável. Em 1469 casaram-se Fernando de Aragão e Isabel de Costela, acontecimento necessário para a união dos dois reinos. De seu casamento não houve descendentes masculinos. Sua filha Joana, casada com Felipe da Áustria, filho de Maximiliano I e que cedo enviuvou, legou-lhe seis netos, entre eles Carlos de Gent ( que mais tarde adquiriu o nome de Carlos I, da Epanha,e Carlos V do Sacro Império Romano Germânico) e Fernando da Áustria, mais tarde igualmente imperador alemão. Os netos de Isabel e Fernando também eram netos de Maximiliano I e de Maria da Borgonha e , por isso, pretendentes ao reino importante da Borgonha, localizado entre a França e a Alemanha e cuja importância econômica estava especialmente nas regiões de Flandes. Carlos se tornou herdeiro da Espanha e da Borgonha e, em 1519, imperador alemão. Fernando recebeu a coroa da Áustria e, pouco tempo depois, tornou-se rei da Boêmia e da Hungria. O poderio da casa de Hasburgo pode ser avaliado pelas conquistas ultamarinas da coroa espanhola. O único adversário possível da Casa de Hasburgo ficou sendo a França. A Inglaterra tinha que se aliar ou à Espanha ou à França. No norte da Europa não havia grande poderio.
Ninguém duvidava da fidelidade da Espanha ou da França ao catolicismo. A Espanha provara ser uma boa salvadora da cristandade ao expulsar os árabes da península Ibérica de forma definitiva em 1492. Ali não havia espaço para a penetração de outro pensamento, ainda mais que isabel e Cisneros já tinham feito sua reforma. Na França o conciliarismo medieval havia garantidos tantos direitos, que não se fazia mais necessária uma reforma. Distinta era a situação na Europa Central. Nem a Alemanha tampouco a Itália haviam conquistado uma unidade política. Ali existia uma infinidade de centros regionais de poder, todos subordinados ao poder imperial. Enquanto os poderes regionais buscavam assegurar sua participação no poder imperial, o imperador lutava para aumentar seu poder, levando os estamentos a reclamarem constantemente de "servidão" a que estariam sendo submetidos. Foi nessa região, especialmente na Alemanha , que explodiu o movimento reformatório. As tentativas imperiais de pôr fim às discussões religiosas nessa parte da Europa não surtiram efeito. Elas aconteceram em 1530, em 1547 e em 1555, em Augsburgo. A segunda tentativa foi precedida de uma vitória militar do imperador sobre os protestantes, mas também não surtiu efeito. Na última, decidiu-se que a questão religiosa seria resolvida de território em território.
Na Itália, a divisão territorial era ainda mais complicada. Lá não tinha disnastias, e as formas de governo sofriam constantes mudanças. A rotação de poder era constante, surgiam democracias que logo eram eliminadas por um ou outro tirano, que por sua vez não usufruia de seus intereses pois logo era derrubado para dar lugar a uma nova linha de democracia. O papado também estava envolvido nesta trama política. O papado exercia uma dualidade de poder. De um lado, era representante do poder hegemônico sobre a cristandade ocidental; e de outro governava o Estado Pontifício, que se estendia sobre o centro da Itália. Assim o papado era um dos centros de poder e estava muito envolvido nas questões da política da região. Essa dualidade de função trouxe conseqüências catastróficas para a igreja universal.
Os Turcos dominavam a parte sul do Leste da Europa, haviam se expandido e conquistado muitos territórios nos Balcãs após as muitas cruzadas. No ano de 1529, Suleimão II chegou muito próximo das portas de Viena, almentando o nível de insegurança política entre os poderosos da época. O perigo turco foi o principal problema político da Europa do século XVI, e não foi apresentado apenas no leste, mas avançou para o mediterrâneo. Os turcos foram derrotados por Carlos V no ano de 1535 em uma batalha naval, mas alguns anos depois, em 1541 obtiveram vitória em Argel, naquela batalha por pouco Carlos V, não se tornou prisioneiro. Após esta derrota Carlos V se aliou com seu irmão Fernando para enfrentarem os turcos, mas careciam de suporte financeiro. Assim contrataram os estamentos alemães. Para estes estava claro que, se os turcos colocassem em xeque o poderio da Casa de Hasburgo, eles seriam os próximos a sentir as conseqüências. Por este motivo assumiram o ônus da guerra. A cada auxílio, porém, negociavam vantagens.
A Reforma da Igreja e o desenrolar político estão amaranhados entre si. Para ser ainda pior, nas guerras travadas entre Carlos V e Francisco I, estavam envolvidos dois governantes fortemente católicos. As tropas eram formadas, desde oficiais a soldados por maioria de mercenários, lasquenetes alemães que eram adeptos do pensamento de Lutero, ou suiços evangélicos. No ano de 1527 lasquenetes invadiram Roma e propocionaram o chamado"saco de Roma",cantavam hinos de Lutero e causaram grande desordem e destruição.
O impacto da guerra gerou grande necessidade para Carlos V de obter aliados, e esses aliados eram em sua maioria protestantes. Nos conselhos onde se tratavam dos empréstimos para a guerra contra os turcos era primeiro resolvido a questão religiosa, exigência dos alemães, para depois se tratar das concessões financeiras. Porém após a formação da Liga de Esmalcalda liga formada por protestantes, os inimigos da Casa de Habsburgo quiseram ser seus aliados. Deste modo Francisco I deu seu apoio, ao mesmo tempo que abertamente perseguia os cristão na França. Henrique VIII seguiu o mesmo caminho, e ofereceu seu apoio à liga. A reforma deve sua expansão em grande parte às guerras que foram travadas na Europa. " Hereges podem ser aliados preciosos".
A Reforma e a Cultura
A reforma não é um conjunto de acontecimentos a parte da história da cultura, muito pelo contrário ela coincidiu mesmo que parcialmente com o Renascimento, que deu seus primeiros passos na Itália já no século XIV. O século XVI é também período do humanismo e essa corrente de pensamento influenciou muitos dos reformadores e outros realmente abraçaram as ideologias humanistas, tais como; Melanchthon, Zwínglio e Calvino. E na outra face da "moeda" foram também representantes do Renascimento. Renascimento e humanismo sob uma visão simplista parece ser difícil de separar e muitas vezes são usados como sinônimos apesar de apresentar o mesmo fenômeno em perspectivas diferentes.
O nome Renascimento identifica-se muito bem com os acontecimentos da antigüidade, que possibilitaram uma nova visão de mundo. Era o nascer de novo, a antigüidade renasceu.
O Renascimento teve sua colaboração variada nas diversas potências mundiais do mundo de então.
"Formalmente foram redescobertos escritos da literatura latina, vindos de Bizâncio para a Itália, após a queda de Constantinopla. Na Itália o Renascimento auxiliou na formação de um espírito nacional e levou á busca da latinidade clássica. Na Alemanha foi além. Ali não só se estudaram os autores clássicos dos gregos e romanos, mas também a língua hebraica.
Ao lado do latim e grego, o hebraico encontrou o caminho da universidade."
(Dreher,1999; p. 11)
Porém o Renascimento não é apenas um retrocesso a antigüidade, na perspectiva do estudo das línguas antigas e da literatura clássica. Houva uma mudança na esfera do sentido da vida. Se é comum dizer que o homem medieval era orientado no transcendente e o ser humano do Renascimento baseava-se orientando no imanente, isso é bastante simplista na afirmação. O certo é que o ser do período Renascentísta tinha uma visão e posição diferente em ralação as realidades do imanente. A individualidade foi acentuada."História e técnica cresceram em importância". No Renascimento a sensibilidade para o belo e o sensual ganhou grandes proporções.
O humanismo sob o ponto de vista religioso é multifacetado. O lema humanista ad fontes pode referir-se tanto ao cristianismo da antigüidade anterior ao cristianismo quanto ao á antigüidade cristã. Assim Paulo e Platão tornam-se equivalentes em importância e um pode ser usado para interpretar o outro. O estudo dos pais da igreja,(patrística) e os estudos de Platão marcavam o mesmo grau de presença. Nos dias da Reforma a expressão "Palavra de Deus" que era absorvida como norma, poderia ter dois significados: a Bíblia ou os ensinamentos dos pais da igreja. O humanismo influenciou em muitos aspéctos da Reforma e muitos que aderiram a Reforma eram humanistas. Até mesmo Lutero, apresentou-se em seus urros de bravura ser um humanista.
A Reforma foi influenciada e auxiliada pelo Humanismo que ,também se beneficiou da Reforma.
BIBLIOGRAFIA
DREHER, Martin N. caracterização de um período. In: Coleção História da Igreja: a crise e a renovação da igreja no período da reforma. Sinodal. Cap. I p. 7-13. v. 3
domingo, 22 de março de 2009
Assinar:
Postagens (Atom)